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No Expresso Político de hoje vamos falar sobre às eleições, o movimento “Legendários” consolidou-se como força de mobilização e influência no universo conservador, com impacto direto em atores políticos.
Em 2025, surgiu um novo fenômeno no universo evangélico político: o movimento “Legendários” — uma iniciativa que combina retiros espirituais, valores conservadores e impacto político indireto, com influência crescente entre homens cristãos e agentes públicos.
Esse movimento reflete a consolidação de uma estratégia que transforma práticas religiosas em capital político real, reforçando o poder simbólico dos evangélicos nas decisões eleitorais. Com quase 52 mil participantes no Brasil e excelência regional em ranking internacional, o grupo reforça seu perfil como um ator de peso na agenda conservadora .
O objetivo deste artigo é mapear o surgimento, a estrutura e a influência institucional dos “Legendários” em 2025 — identificando como esse movimento se conecta com atores políticos, quais estratégias mobiliza e que riscos institucionais representa para a pluralidade democrática e a laicidade do Estado.
Origem e identidade do movimento 🌄
🛡️ Surgimento e lideranças nacionais
O movimento “Legendários” tem origem na Guatemala, criado em 2015 por um ex-líder evangélico, e chegou ao Brasil em 2017. Rapidamente, ganhou tração entre homens jovens e de influência religiosa, fundado por lideranças com alcance nacional por meio de pregações em retiros que combinam desafio físico e espiritual .
📜 Valores centrais: fé, moralidade e nacionalismo conservador
Guiado por uma proposta de “resgatar o herói em cada família”, o Legendários promove uma narrativa de empoderamento espiritual e moral, enfatizando o papel do homem como provedor e guardião da fé. Seus princípios incluem oração, comunhão e fortalecimento da identidade cristã tradicional, conectando-se ao nacionalismo conservador — defendendo família sólida, valores bíblicos e identidade cultural .
🗡️ Conexão simbólica: referências bíblicas e heróicas
A simbologia do movimento faz referências diretas a arquétipos bíblicos e valores de coragem: Jesus é apresentado como o “primeiro legendário”, enquanto os participantes são encorajados a viver uma espiritualidade guerreira, com práticas como rituais em contextos de natureza, gritos de guerra e uniformes simbólicos . A mistura de elementos religiosos, simbólicos e militares fortalece um senso de missão e identidade masculina espiritualizada.
✔️ Síntese
O Legendários nasceu como um movimento evangélico voltado para homens, com um discurso de “restauração espiritual” e moral, embasado em tradições bíblicas e simbologias heroicas. Sua identidade é marcada pela fusão do sagrado com o nacionalismo conservador, criando um movimento religioso com traços culturais e políticos, e que tem ressoado especialmente com públicos jovens e conservadores.
Estrutura organizacional e estratégias digitais 🛡️
🕊️ Rede de igrejas associadas e canais compartilhados
O movimento Legendários se sustenta por meio de uma rede articulada de igrejas e líderes que repassam e promovem os retiros. As conexões entre congregações locais e eventos nacionais garantem consistência doutrinária e alcance amplo, reforçado por canais oficiais — incluindo Instagram, YouTube e plataformas próprias — nos quais conteúdos, datas e manuais são divulgados de forma padronizada .
🌐 Mobilização digital: mega-lives, WhatsApp e Telegram
Além dos encontros presenciais, o Legendários usa estratégias digitais modernas:
Mega-lives com lives interativas de preparação e encerramento dos retiros.
Grupos no WhatsApp e Telegram para organizar logística, estímulo espiritual contínuo e atualizações entre participantes.
A combinação fortalece a coesão do grupo e facilita a tomada de ação coletiva — desde o alistamento nos eventos até o compartilhamento de depoimentos públicos.
📊 Centro de dados e segmentação eleitoral
Fontes de mídia apontam que o movimento monitora o perfil dos participantes, criando clusters por faixa etária, localidade e grau de engajamento. Essas informações são utilizadas para adaptar mensagens — e podem servir futuramente para direcionar mobilizações eleitorais e políticas, caso surjam parcerias com candidatos ou partidos .
✔️ Resumo
O Legendários combina organização física com plataforma digital robusta. A estrutura organizacional, aliada à coleta e segmentação de dados, potencializa não apenas a experiência espiritual dos participantes, mas também sua capacidade de formar uma base influente de mobilização com perfil político conservador — um fenômeno que exige atenção sobre como religiões se inserem no campo público e eleitoral.
Interação com atores políticos 🤝
O movimento Legendários tem amplitude política prática, embora não se vincule a partidos ou candidaturas específicas. Sua influência indireta em campanhas e pautas institucionais é evidente, revelando uma rede de colaboração simbólica e suporte estratégico.
🗳️ Apoio a campanhas conservadoras
Nas eleições de 2024/25, políticos conservadores — incluindo aqueles eleitos para governos estaduais — participaram de retiros ou compartilharam publicamente experiências com o movimento, reforçando a sinergia entre a agenda evangélica e essas candidaturas. Tal apoio é tácito: promove reputação por associação, ainda que o movimento não mencione nomes explicitamente .
📌 Mediação em pautas legislativas
Apesar da ausência de formalização institucional, o movimento dialoga diretamente com parlamentares em temas como educação, mídia e direitos civis. Essa mediação ocorre por meio de eventos paralelos, círculos de influência e presença em agendas públicas, criando canais de comunicação entre a base religiosa e o legislativo .
🤝 Parcerias simbólicas discretas
“Legendários” não patrocina campanhas eleitorais, mas cria uma rede de interações simbólicas com atores políticos. Governadores e prefeitos que participaram de retiros chegaram a ser homenageados com homenagens públicas, e debates sobre questões morais ou culturais foram marcados por menções ao movimento — fortalecendo sua presença no imaginário político .
✔️ Síntese
Embora não assuma papel oficial nas campanhas eleitorais, o movimento Legendários atua como lembrete vivo de que a influência religiosa pode se estabelecer de forma informal, mas consistente no centro institucional. Essa modalidade de articulação simbiótica — sem vínculos partidários — permite que seu impacto seja percebido com clareza: a voz evangélica perpassando decisões públicas, em 2025, com força e visibilidade crescentes.
A influência nos bastidores ⚙️
🎯 Acesso privilegiado a eventos decisórios
O movimento Legendários não atua apenas em retiros espirituais; ele mantém interlocução ativa dentro de gabinetes e com lideranças políticas. Seu formato de grupo seleto e alinhado com pautas conservadoras facilita contato direto em eventos decisórios, sendo frequentemente presente em encontros políticos, fóruns e reuniões informais onde são discutidas estratégias legislativas .
📰 Pressões discretas via mídias evangélicas
Embora não emita notas oficiais, o próprio simbolismo e estruturas de comunicação do movimento — megalives e transmissões — transmitem mensagens claras. Retornos regulares nas redes motivam parlamentares a manterem-se alinhados com temas como família, educação e moral. Essa pressão indireta, realizada por influenciadores e páginas alinhadas aos Legendários, amplifica decisões e posicionamentos políticos favoráveis .
🤝 Presença em articulações institucionais interpartidárias
O movimento está inserido em uma rede estratégica que cruza partidos e esferas administrativas. Nos bastidores, há relatos de reuniões interpartidárias e articulações com frentes religiosas e sociais, movimentando pautas conservadoras em comissões, CPIs e debates legislativos — reforçando, silenciosamente, seu poder de influência .
✔️ Resumo
O “Legendários” demonstram que sua força vai além da militância espiritual: por meio de acesso, pressão mediada e presença estratégica em espaços institucionais, o movimento converte capital religioso em influência política real, moldando agendas públicas sem precisar se filiar ou candidatar–se diretamente.
Repercussão na mídia e sociedade 📰
🗞️ Visibilidade nos veículos conservadores
Veículos alinhados ao campo conservador — como a Gazeta do Povo — passaram a cobrir o Legendários não apenas como evento religioso, mas como movimento cultural e político emergente. Uma publicação de abril de 2025 descreveu que o grupo “furou a bolha” tradicional das fronteiras evangélicas após conquistar celebridades, e chamou atenção ao “atrair a ira da esquerda” . Essa narrativa reforça a percepção de que o movimento extrapola o campo espiritual, posicionando-se como força pública significativa.
🔥 Reações de setores progressistas e minoritários
Setores da esquerda e entidades ligadas à educação, gênero e diversidade expressaram preocupação. Criticam o caráter masculino extremo e a conexão com uma agenda conservadora, alertando que os “Legendários” fomentam um masculinismo gospel com vieses políticos que pode pressionar decisões em educação e direitos civis . Grupos minoritários observaram que a expansão simbólica do movimento representa risco ao pluralismo, especialmente entre jovens campeões do movimento.
🎯 Casos emblemáticos de sucesso narrativo e controvérsia
Além do alcance entre os fiéis, o movimento virou mídia quando cidades como Campo Grande, Cuiabá e Vitória instituíram leis que celebram o “Dia dos Legendários”, resultado da presença política indireta de retiros que incluíram a participação de figuras públicas . Por outro lado, colunistas como Luiz Felipe Pondé alertaram para o risco de um retorno a “valores niilistas”, ao criticar as práticas do movimento como resposta ressentida a transformações sociais .
✔️ Síntese
O Legendários cresceu com forte repercussão midiática — louvado por conservadores e criticado por progressistas. Seus eventos simbólicos, valorosos e volumosos, ganharam manchetes, leis e debates públicos. O movimento se tornou simultaneamente fenômeno cultural, ideológico e político, gerando tanto respeito quanto polêmicas, na medida em que questiona os limites entre fé, poder e pluralidade.
Limites e críticas
⚖️ Fé e política: uma mistura delicada
O avanço do movimento Legendários sobre a arena política levanta uma preocupação recorrente em democracias modernas: até que ponto estruturas religiosas podem operar como blocos de pressão institucional? Críticos argumentam que o movimento transforma sua base espiritual em um instrumento de influência política contínua, ultrapassando o papel da religião como guia moral para agir diretamente sobre votações legislativas e decisões estratégicas do Executivo. Essa fusão entre fé e poder de Estado tensiona o princípio da separação entre Igreja e governo, ainda que os próprios membros neguem intenção de teocratização.
🌐 Riscos ao pluralismo e à laicidade
A institucionalização da presença dos Legendários pode representar riscos ao pluralismo religioso e cultural. Quando valores de um único grupo passam a moldar políticas públicas — especialmente em áreas como educação, sexualidade, cultura e liberdade de expressão — há o temor de marginalização de minorias, incluindo grupos religiosos não-evangélicos, ateus e segmentos de outras visões de mundo. Além disso, discursos que reforçam a ideia de “guerra espiritual” ou “ameaça cultural” contribuem para a polarização do debate público.
🧩 Vulnerabilidades internas e fatores de retração
Apesar do crescimento, o movimento carrega fragilidades estruturais. A primeira delas é a dependência de figuras carismáticas e do apelo emocional imediato — o que pode ser problemático diante de crises de imagem ou disputas internas por protagonismo. Além disso, o forte vínculo com pautas morais específicas pode afastar eleitores moderados ou jovens evangélicos mais pluralistas, limitando sua expansão eleitoral.
Há também o risco de o envolvimento direto em campanhas e articulações políticas desgastar a imagem espiritual do movimento, colocando-o em rota de colisão com outras igrejas ou líderes evangélicos que preferem uma atuação mais doutrinária e menos partidarizada.
🧭 Em resumo
Enquanto o movimento Legendários representa um fenômeno significativo de mobilização religiosa-política, ele também enfrenta dilemas de longo prazo. Sua influência atual é notável, mas sua permanência como força institucional dependerá da capacidade de manter equilíbrio entre fé, política e respeito aos pilares democráticos.
Conclusão
Em 2025, o movimento Legendários consolidou-se como uma das principais expressões do ativismo político-religioso no Brasil. Com uma rede de comunicação altamente eficiente, presença estratégica em gabinetes e participação indireta em campanhas eleitorais, o grupo demonstrou capacidade de influenciar decisões legislativas, moldar debates públicos e intermediar pautas morais com peso institucional.
Contudo, a sua força crescente impõe questionamentos necessários: qual é o limite entre influência legítima e intromissão indevida no espaço público? Até que ponto uma organização com base doutrinária específica pode operar como articuladora de decisões que impactam um país plural?
A articulação religiosa não é, por si só, um problema para a democracia — ela pode inclusive enriquecer o debate. O risco surge quando narrativas exclusivistas e agendas rígidas tentam se impor como norma estatal, sem espaço para o dissenso ou a diversidade de visões.




